Às vezes parece amor, mas é só ilusão.
Mas quem está iludindo quem?
Em teoria, sabemos distinguir entre o amor verdadeiro e as ilusões.
Depois que o tempo passa, a gente também consegue perceber melhor se foi amor mesmo ou não. Mas enquanto estamos no meio da situação, já é mais difícil. É preciso conhecer um pouco os truques da ilusão e as mutretas da vida para não se enganar. A palavra amor é usada em muitos sentidos e isso gera algumas confusões. Mas o problema mesmo está na interpretação dos sentimentos que temos, ao dizer que amamos ou ao ouvir que nos amam. A ilusão acontece nesse passo d3 interpretação e comunicação. Por que será?
Em geral, entendemos que o amor verdadeiro seja sincero, durável, respeitoso, construtivo. O contrário do amor é usar as pessoas; e o que ilude é quando isto é feito de modo disfarçado.
Quando cai a máscara, então pagamos o preço da ilusão.
Fica tudo mais amargo quando fomos enganados de propósito. A dificuldade é que muitas vezes a gente ilude os outros ou se ilude, sem ter uma consciência clara disso. Aqui entra o desafio de conhecer as artimanhas que fazem o amor ser ilusão.
Uma chave para entrar nesse quarto escuro está no chaveiro dos desejos. Nosso desejo é seletivo: tem um ponto de interesse que atrai, dentro de um conjunto maior. Esse conjunto, que pode ser uma pessoa, só interessa enquanto serve para obter o que se deseja. Chegando ao ponto, o resto é resto. É assim que muitas pessoas são passadas para trás quando alguém chega ao ponto que queria. Na verdade, não são passadas para trás, pois nunca estiveram na frente. O que parecia amor era uma jogada, nem sempre consciente, para se conseguir o objetivo do desejo. Olhe só quando predominam interesses econômicos, interesses de auto promoção, interesses sexuais. As pessoas parecem amadas, até ficar claro o quanto são apenas instrumentos de transição. O esquema é este, mas a sorte é que existem formas intermediárias, pois não somos tão radicais para desejar sempre desse modo. Outra chave prática é saber que os desejos têm estímulos muitas vezes ocultos. Por exemplo, os hormônios interferem no desejo sexual; as propagandas puxam o desejo pelos bens de consumo; a opinião dos outros provoca o cultivo de nossa auto imagem. Então, vira uma corrente: o estímulo provoca o desejo; seleciona o ponto de interesse; e a pessoa fica animada para obter o desejado. O jeito amigável, que parece amor, é uma das formas de conquistar o que se deseja; outro jeito seria pela violência. Mas nesse ponto ambos fazem parte do mesmo processo de conquista. Assim, às vezes fica parecendo que o amor e violência se misturam. O ciúme mostra bem isso: na insegurança ou medo de perder a pessoa ou a coisa desejada, aparece a violência "por amor".
Quando bate o fogo do desejo, é difícil pensar em motivos e estímulos. Mas ajuda se fortalecermos uma consciência mais clara a esse respeito. Pois fica mais fácil entender os sentimentos da gente e dos outros; e não botar tudo na conta do amor. No fundo, desejamos porque somos incompletos, eos desejos são como molas que nos impulsionam para a auto realização. Então, é indispensável desejar e ter interesses. O desafio do amor é somar nossos desejos e interesses com o bem dos outros. Nem tudo é claro nesse jogo, e muitas vezes a gente se ilude. Mas um pouco de ilusão também faz bem para a saúde. Com moderação.
Fonte: Revista de Aparecida, coluna do Pe. Márcio Fabri dos Anjos, C.ss.R.
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