Esses e outros dilemas atingem diretamente as nossas vidas, a vida da
juventude e da população brasileira, e assim, ousamos nos questionar:
Ninguém está vendo tudo isso que está acontecendo? As pessoas que estão
com poder de decidir as coisas, não podem fazer nada? E eu? O que posso
fazer?
A Igreja…
O
bispo auxiliar de Belo Horizonte e presidente da Comissão da CNBB
responsável por acompanhar a Reforma Política, Dom Joaquim Giovani Mol
Guimarães, enviou uma Carta de Apoio ao Plebiscito Constituinte na tarde
do sábado, dia 9 de agosto. Dizia nela:
“Estou
certo que hoje somos todos desafiados a melhorar o Brasil em todos os
aspectos, não obstante os reconhecidos avanços já conquistados. Isto
exige um hercúleo esforço para melhorarmos nossa linguagem e formas de
comunicação com a sociedade, particularmente com os pobres e com os
jovens. [...] a Reforma Política no Brasil, (é a) mãe de várias outras
reformas esperadas pelo povo. Estamos em campanha de conscientização e
coleta de assinaturas pra o Projeto de Lei de Iniciativa Popular de
Reforma Política Democrática, da Coalizão pela Reforma Política e para o
Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva para a Reforma
Política no Brasil. Sabemos que só alcançaremos as assinaturas
necessárias se nos unirmos. Se nos unirmos, podemos melhorar a política e
o Brasil”.
Para a Pastoral da Juventude, na sua última Ampliada Nacional
acontecida em janeiro na cidade de Ribeirão das Neves, Minas Gerais,
os/as delegados/as deliberaram que a bandeira da Reforma Política seria
uma das principais linhas de ação do projeto “A Juventude Quer Viver”,
acreditando nela como uma ação pastoral muito concreta, bem como na
mobilização popular para mudar o sistema político brasileiro.
Realidade Política hoje!
No atual sistema político, as empresas financiam mais de 90% dos
recursos das campanhas eleitorais, os eleitos e as eleitas são
controlados/as pelos interesses dessas empresas e não dos cidadãos e das
cidadãs que votaram. Além disso, existe uma grande distorção na
democracia representativa atual.
Temos uma questão presente na composição do Congresso no que diz
respeito a representatividade. Mulheres, jovens, indígenas e negros
acabam não tendo a devida representatividade nas casas. Se forem
comparados a quantidade de mulheres que se tem na sociedade, e quantas
estão no Congresso, percebe-se que os números são desproporcionais.
Mais
da metade da população brasileira é composta por mulheres, enquanto
ocupam apenas 8% dos mandatos na Câmara dos Deputados e 2% no Senado.
Essa situação não difere se for comparada a representatividade da
população negra na política institucional. No Brasil, 51% se
autodeclaram negros(as), segundo o Censo 2010 do IBGE, porém apenas 8%
do total de parlamentares se denominam como tal. Os jovens também não
ficam de fora: há mais de 80 milhões de jovens entre 15 e 34 anos no
país, de acordo com o IBGE, ao representarem 42% do eleitorado.
Entretanto, menos de 3% no Congresso Nacional se enquadram nessa faixa
etária.
Quando
a ditadura foi derrubada em 1985, no movimento das massas afirmou a
necessidade de novas instituições no país, mas foi contido pelos acordos
entre as cúpulas da ditadura e dos partidos Arena e MDB. Assim, a atual
Constituição (1988) é parte dessa contenção, da “transição
conservadora”, sem rupturas. Os parlamentares eleitos com as regras
herdadas da ditadura para o Congresso Nacional eram os mesmos que
participavam da Assembleia Constituinte. Além disso, ela não tinha
soberania, pois estava sob tutela do Judiciário e do Governo saídos da
transição conservadora e ditatorial.
Apesar
de alguns poucos avanços no papel, a Constituição de 1988 preservou
muitas instituições criadas ou aprofundadas pelo regime militar, como a
polícia militarizada, que assassina a juventude nas periferias e os
moradores de rua no centro das cidades, a manutenção da estrutura
fundiária, o pagamento da dívida pública, a anistia aos torturadores e
assassinos etc. O resultado disso é um sistema político antidemocrático e
de restrita participação popular.
Em junho de 2013, a juventude foi às ruas, cansada com tamanhas
injustiças e com as instituições do país, e deu o seu recado: o atual
sistema político não nos representa! Logo em seguida, houve um
pronunciamento da presidenta Dilma, que falou da importância e urgência
de uma Reforma Política. A maioria dos/as deputados/as e senadores/as
barraram imediatamente a convocação de uma Constituinte Exclusiva
proposta pela presidenta, pois querem manter tudo como está.
Quais são as campanhas e plebiscitos?
O
projeto de lei de inciativa popular para Reforma Política é uma
iniciativa da CNBB e da OAB, junto a vários movimentos sociais, e que
deu origem à Coalizão Democrática pela Reforma Política e Eleições
Limpas, e que hoje já é apoiada por quase cem entidades e por 170
parlamentares.
O
projeto pretende proibir o financiamento de campanhas eleitorais por
empresas, com implantação do financiamento público e de pessoas físicas,
ambos limitados; adotar o sistema eleitoral proporcional em dois
turnos, no qual o eleitor inicialmente vota num programa partidário
(lista fechada) e posteriormente escolhe um dos nomes da lista ordenada
no partido; promover a alternância de homens e mulheres nas listas de
candidatos dos partidos (paridade de gênero), para aumentar o número de
representações femininas nas casas legislativas, que hoje é de apenas 8%
dos parlamentares; e fortalecer os mecanismos de participação popular
como Plebiscito, Referendo e Projeto de Lei de Iniciativa Popular.
A
outra mobilização é o Plebiscito Popular. Trata-se de uma iniciativa de
diversos Movimentos Sociais Brasileiros, apoiado por diversas Pastorais
Sociais e busca recolher votos para fazer com que haja a convocação de
uma Assembleia Constituinte Exclusiva e Soberana para Reforma Política. A
mobilização, segundo consultores da Semana Social Brasileira, pode
ajudar no trabalho de educação política, com esclarecimento à população
sobre o funcionamento dos poderes públicos e processos ali
desenvolvidos.
Será
realizada a Semana Nacional pela Reforma Política, com diversas ações,
coleta de assinaturas e votos. Essa semana será na Semana da Pátria, de
01 a 07 de setembro, e acontecerá em todo o país.
Rafael Martins
Historiador, Agente de Pastoral e
Coodenador Nacional da Pastoral da Juventude
pelo Regional Sul 1 (SP)
Fonte: Site da Pastoral da Juventude Nacional
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